Nascente de rio é contaminada nas proximidades de aldeia Xucuru-kariri em Alagoas

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Povo Xucuru-kariri – Foto: arquivo/Estêvão dos Anjos/Alagoas24horas

A vida é dura, para muitas aldeias indígenas no Brasil nem se fala. Já não bastasse a pressão de invasores, caçadores de animais, fazendeiros e madeireiros, há outros problemas em voga.

Um fazendeiro, de nome João Cuscuz, de Palmeira dos Índios (Alagoas), contaminou uma nascente com agrotóxico usado em sua plantação , de acordo com relatos de índios do povo Xucuru-kariri ao Ministério Público do estado. Fiscais que fazem parte da Fiscalização Preventiva Integrada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (FPI do São Francisco) flagraram uma área desmatada próxima à nascente contaminada.

Os Xucurus-kariri reivindicam a posse da área de aproximadamente 20 hectares desmatada. Eles prometem revitalizar a área tal qual o perímetro onde vivem. Os índios mantém a área com vegetação nativa como brinco-de-viúva, jaqueira, mangueira, maria-preta, canzenza, araçá, entre outras espécies vegetais.

História indígena ganha destaque em novas diretrizes do MEC

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Índios estudando – Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

O Ministério da Educação tem um plano de reforma no ensino no País que poderá mudar fortemente as aulas de história no Brasil. A visão eurocêntrica perde espaço, jogando luz a outros ângulos de percepção histórica. A nova proposta de currículo de história no ensino médio, elaborada por especialistas convidados pelo MEC enfatiza a história das Américas, da África e história indígena nos dois primeiros anos do ensino médio. História antiga europeia, como Grécia e Roma, ficariam em segundo plano e nem aparecem na proposta curricular do MEC.

A Folha de S. Paulo trouxe matéria sobre o assunto ontem, 22 de novembro, destacando que o assunto “tira o sono dos acadêmicos mais conservadores e divide opiniões”. A reportagem, no entanto, não traz opiniões significativas contendo os prós e os contras. Mas lembra que escolas particulares e públicas seguem a visão eurocêntrica baseadas em provas de processos seletivos de faculdade, como da Fuvest. Leia a matéria da Folha aqui.

O projeto da proposta curricular ainda segue em discussão, de acordo com o MEC, pelo menos até o final do primeiro semestre de 2016. Até lá nós só podemos dizer que discutir a história indígena – que na verdade são muitas, pois são diversos povos – seria muito salutar. Assim como abrir espaço para a história africana. Afinal, o povo brasileiro é a mistura dessas duas histórias somadas à história do velho continente.

Nova espécie de peixe leva o nome do povo Muduruku

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Foto: divulgação/Cárlisson Oliveira, Frank Raynner Ribeiro e André Canto

Enquanto os poderosos pensam em construir hidrelétricas na região do Tapajós, local de moradia do povo munduruku, os pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) descobriram uma nova espécie de peixe no rio Igarapé Açu que pertence à bacia do Rio Tapajós, localizado na Floresta Nacional do Tapajós (Flona).

O peixe, descoberto nas proximidades do município de Aveiro, oeste do Pará, foi batizado com um nome científico que homenageia o povo Munduruku. O pequeno ser vivo, que se aproxima do tamanho de uma piada, recebeu o nome de Bryconops munduruku.

A descoberta é resultado da pesquisa realizada pelo biólogo Cárlison Silva de Oliveira, para a dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Recursos Aquáticos Continentais Amazônicos (PPG-RACAM) da Ufopa. Ele contou com a orientação do professor Frank Raynner Ribeiro e co-orientação do docente André Luiz Canto.

Marlui Miranda une canções de ninar do povo indígena Juruna/Yudjá com jazz

Marlui Miranda – Foto: Gal Oppido

Olha que interessante! A musicista e pesquisadora Marlui Miranda tem um projeto, lançado em 2014, em que ela utilizou 16 canções da etnia Juruna/Yudjá e mesclou com o jazz. O achado ela transformou no disco “Fala de bicho, Fala de gente” que saiu pelo selo Sesc SP. O CD conta com a participação dos instrumentistas John Surman, Nelson Ayres, Rodolfo Stroeter e Caíto Marcondes – estes dois últimos, ex-integrantes, respectivamente, do Grupo “Um e pé Ante pé”, expoentes do jazz fusion nacional.

As canções dos Juruna são entoadas apenas durante o dia, para que as crianças durmam e as mães possam realizar as atividades diárias. Os temas das músicas falam do cotidiano nas aldeias: bichos caçando, seres celestiais, o sol sendo chamado.

Marlui Miranda: Voz, violão, casco de tracajá e flauta huϊ ‘ ϊ abe, huϊ ‘ ϊ parẽ
John Surman: Saxofone, flautas huϊ ‘ ϊ parẽ, tenor recorder, clarone
Nelson Ayres: Piano acústico
Rodolfo Stroeter: Contrabaixo acústico e elétrico
Caíto Marcondes: Percussão e bateria

Miranda explica o projeto um pouco mais em entrevista para Juliana Maya, da Radioagência Nacional – EBC (acesse aqui para ouvir o bate-papo). Abaixo você poderá ouvir o disco na íntegra:

Tracklist:

1. Chamado [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda] 00:00
2. Dukũ Dukũ (Cantiga de ninar – cantiga do urubu, que procura os restos de arraia para comer – Dukũ Txϊrϊrϊ, o barulho de suas asas) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 01:16
3. Kaibi Dukasela (Canto da festa Kuataha de Abϊa – para os seres celestiais, os Alapa, cantada na época do plantio, para as plantas nascerem bonitas e alegres!) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 05:30
4. Yuparana (Cantiga de significado esquecido. Pode ser sobre uma era remota, quando os Juruna/Yudjá construiram uma grande canoa avisados por Selaã, o Criador, para se salvar de um dilúvio) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda, Nelson Ayres e John Surman] 09:35
5. Yaita Yaita (Cantiga de ninar – Yaita, passarinho de cabeça vermelha, diz: “vou beber água”) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 14:00
6. Abina Wakabu Tade (Cantiga de ninar – a mulher chora com uma cesta de ossos, porque foi abandonada) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman]18:01
7. Apϊ Ayã Txuxitxuxi (Cantiga de ninar – o cachorrinho Aritada comeu comida quente e queimou a boca) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 22:28
8. Mã De Uzakazaka (Cantiga de ninar – o veado tem vergonha porque seu pescoço é fino) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda] 25:27
9. Padũ, Padũ, Padũ (Cantiga de ninar – o sapo diz: “minha bunda parece a bunda de quem?”) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda] 29:22
10. Kuadĩ Abϊa (Cantiga da Festa do Sol – o sol diz: “espera que eu estou chegando”) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 31:00
11. Alukade Wase (Canto da festa Kuataha de Abϊa) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 34:00
12. Apϊ Abaku Da (Cantiga de Ninar – o jabuti diz que matou a onça com seu casco) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 36:57
13. Ude Lawϊla Maku (Canto da festa Kuataha de Abϊa) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 39:06
14. Anana De Wata (Cantiga de Ninar – a irmã fala para a namorada do irmão: “é assim que se faz brinco?”) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda e John Surman] 42:35
15. Makaxi Pararaku (Cantiga do milho, cada planta tem a sua) [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda] 47:25
16. Wara Wara/Chamado Final [Associação Yarikayu do Povo Juruna/Yabaiwa Juruna – adaptado por Marlui Miranda – arr.: Marlui Miranda] 48:35

Povo Munduruku exige demarcação de seu território

Índio Munduruku – Foto: divulgação / Abong

O território Munduruku, no norte do Brasil, está em risco. Por esse motivo, mais de 60 entidades da sociedade civil  já assinaram a carta “Daje Kapap Eipi (Sawre Muybu) é território tradicional: todo apoio à autodemarcação do povo Munduruku!”, exigindo que os direitos constitucionais desse povo sejam respeitados.

Há planos de que ao menos impressionantes 43 usinas hidrelétricas sejam construídas na bacia do rio Tapajós – entre elas, São Luiz do Tapajós. Se isso se concretizar, o resultado será a destruição da área de ocupação tradicional dos Munduruku e de outras populações que vivem ao longo do rio.

O governo federal quer impedir a demarcação das terras dos Munduruku, localizadas entre os municípios de Itaituba e Trairão (Pará). Para que o Estado não paralise o reconhecimento desse território, muitas pessoas estão se unindo por esse nobre causa, que todos com empatia aos Munduruku e ribeirinhos deveriam aderir. SAWE! SAWE! SAWE!

Para assinar a carta de apoio aos Munduruku, acesse aqui.

Peça “Meu Vo(o) Apolinário” é indicada ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem

"Meu Vo(o) Apolinário" - Foto: Marcos Ferreira

“Meu Vo(o) Apolinário” – Foto: Marcos Ferreira

É com satisfação que informamos que a peça “Meu Voo Apolinário” foi indicada ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem 2015 na categoria “Prêmio Sustentabilidade”. A premiação é coordenada pela Academia de Arte e Cultura, com patrocínio exclusivo da Coca-Cola. Foram avaliados 57 espetáculos que estrearam entre outubro do ano passado e a primeira quinzena de outubro de 2015, de acordo com as novas regras do projeto, que tem apoio do Proac.

“Meu Voo Apolinário” foi indicado ao “Prêmio Sustentabilidade” por “incentivar no público jovem a cidadania e a prática de se viver de forma ética, plural e sustentável”. Concorrem na mesma categoria as peças “Os Recicláveis” e “Refugo Urbano”.

A comissão julgadora do Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem 2015 é composta por Beatriz Rosenberg, Dib Carneiro Neto, Gabriela Romeu e Mônica Rodrigues da Costa. A festa da revelação dos vencedores e entrega dos prêmios será na noite de 8 de dezembro.

Estarão em jogo 18 categorias: autor de texto original, autor de texto adaptado, diretor, cenografia, figurino, iluminador, trilha musical original, trilha musical adaptada, ator, ator coadjuvante, atriz, atriz coadjuvante, revelação, prêmio especial, produção, melhor espetáculo infantil, melhor espetáculo jovem, prêmio sustentabilidade.

Veja as outras indicações aqui.

Há um ano líder Munduruku escrevia carta à sociedade brasileira e internacional

Jairo Saw – Foto: Carta Capital

Em dezembro de 2014, Jairo Saw Munduruku, liderança da aldeia Sai Cinza, Terra Indígena Sai Cinza, escreveu uma extensa carta direcionada à sociedade brasileira e internacional, como também ao governo brasileiro, falando sobre seu povo, todo habitat à sua volta e essencialmente sobre a vida na Terra. Vale a pena utilizar uns minutos de seu tempo nessa leitura. A revista Carta Capital divulgou o apelo de Saw:

“Somos povos nativos da floresta Amazônica, existimos desde a origem da criação do mundo quando o Karosakaybu nos transformou do barro (argila) e nos soprou com a brisa do seu vento, dando a vida para todos nós. Desde o princípio conhecemos o mundo que está ao nosso redor e sabemos da existência dopariwat (não-índio), que já vivia em nosso meio.

Éramos um só povo, criado por Karosakaybu, criador e transformador de todos os seres vivos na face da Terra: os animais, as florestas, os rios e a humanidade. Antes, outros povos não existiam, assim como os pariwat não existiam.O pariwat foi expulso do coração da Amazônia, devido ao seu pensamento muito ambicioso, que só enxergava a grande riqueza material.

Portanto, a sua cobiça, a sua ganância, a sua ambição, o seu olho grande despertou o grande interesse econômico sobre o patrimônio que estava em seu poder. Não pretendia proteger, guardar, preservar, manter intactos os bens comuns, o maior patrimônio da humanidade, e isso despertou o seu plano de destruição da vida na Terra. Por isso, o Karosakaybu achou melhor tirar a presença do pariwat deste lugar tão maravilhoso, onde há sombra e água fresca.

Nossos ancestrais, no decorrer do tempo, nos transmitiram oralmente esses relatos sobre a vinda dos pariwat, oriundos de outro continente, a Europa. Contaram-nos que um dia chegariam a esse paraíso onde nós estamos. Hoje podemos presenciar os fatos sendo consumados. O pariwat chegou, depois de viajar pelo mundo em busca de especiarias, produtos, mercadorias. Foi ampliando a expedição, em busca de conhecer outro mundo ou outra terra. Viajava em caravelas até chegar ao chamado “novo continente”, que se conhece hoje como continente americano, onde está o Brasil, desde o século XIV.

Nossos avós diziam que, quando os pariwat chegassem até o nosso território, eles iriam tomar nossas terras, nossas mulheres, nossas crianças. Iriam nos matar, não nos poupariam vidas para possuir tudo aquilo que nos pertence: a nossa riqueza, os bens que possuímos, incluindo a nossa cultura, a forma como vivemos. Invadiram nossa terra, muitos de nossos parentes foram massacrados, assassinados, foram submetidos à tortura e foram usados nos trabalhos forçados, servindo de mão de obra escrava.

Já no século XXI, na era contemporânea, continuamos sendo oprimidos, como nos tempos passados. Apesar de termos alcançado várias conquistas e garantido nossos direitos específicos e diferenciados na Constituição Federal, ainda assim esses direitos não são respeitados e reconhecidos. Hoje se utiliza do poder para impor o lema do “progresso e desenvolvimento”, a base da bandeira nacional: “ordem e progresso”. Tudo em nome do capital.

No primeiro momento, o objetivo era seguir exatamente como está escrito no símbolo da bandeira: pôr em ordem, organizar a política da sociedade civil. As leis estão organizadas desde o princípio, elas não devem ser mudadas, o que se deve fazer é cumprir e obedecer.

Nós, Munduruku, obedecemos leis e, embora não se encontrem escritas em nenhum arquivo, as conhecemos há milhões de anos e até hoje cumprimos essas leis. A natureza tem leis e devem ser obedecidas. Se nós violarmos as suas regras, ela se vingará e sofreremos as consequências. As leis estão em ordem, não devem sofrer interferência alguma.

Os “civilizados” escreveram leis e não as respeitam, usam o poder para oprimir as pessoas que julgam ter menos conhecimentos. Não reconhecem os seus direitos, chegam até a intimidar, a ponto de nos submeter. A razão é dada apenas por um indivíduo ou classe com maior poder econômico.

Os “civilizados” dariam bom exemplo de cidadão pleno e letrado para as pessoas humildes, porque a lei foi feita por causa das injustiças criadas pelos pariwat. Justiça é saber o que é certo e o que é errado, sem favorecer a um ou a outro, a balança não deve pesar nem para a direita e nem para a esquerda. Existe uma haste entre os dois pratos da balança, que deve manter o equilíbrio e a justiça deve ser feita para o cumprimento da lei, deve ser obedecida e aplicada.

Então, ao surgir a lei escrita, ela desvendou os nossos olhos, passamos a enxergar as coisas erradas dos pariwat a nosso respeito. Os nossos direitos estão em jogo. Falam tanto a nosso respeito, somos tratados como empecilhos para o desenvolvimento econômico do país. Mas nós não somos contra o desenvolvimento, o que queremos é que sejamos respeitados e que nossos direitos como indígenas sejam reconhecidos.

A Constituição diz que é dever do Estado proteger, demarcar os territórios, garantir a segurança, respeitar as formas próprias de organização social e as culturas diferenciadas, por isso queremos respeito. Até a nossa crença, a nossa religião deve levar em consideração o modo como vivemos.

Respeitamos sempre a natureza, ela é de suma importância para nós e é essencial para a vida no planeta. Nós estamos preocupados com o equilíbrio do clima, com as mudanças climáticas. Resta apenas uma parte da floresta que está dando vida ao planeta chamado Terra e a seus habitantes. Esta pequena parte tornou-se alvo da ganância do pariwat.

Nós percebemos que os países ricos querem levar o chamado “desenvolvimento” para o coração da Amazônia, só para destruir. Não levam em consideração os povos nativos desse continente, que estão aqui há milhares de anos. Estamos lutando, resistindo, protegendo com unhas e dentes esse nosso patrimônio, mas ninguém ouve nossos gritos de socorro em prol da vida no planeta. Sabemos que a vida dos pariwat também está em risco e não estamos apenas nos defendendo: estamos defendendo toda a vida, toda a biodiversidade.

Existem tantos cientistas que estudam os fenômenos da natureza e alguns devem estar percebendo as mudanças climáticas, dia após dia, ano após ano. Em outros países vemos as consequências dos impactos causados pela ação humana. As consequências estão sendo sentidas e estão fora da normalidade. A natureza esta sofrendo alterações no seu funcionamento, que vão além da sua capacidade, ela já não está suportando a pressão causada pelos humanos.

Alguns exemplos dessa pressão são: poluição do ar produzida pelas fábricas e indústrias, automóveis, desmatamento, explosão de dinamites, dentre outros. A natureza não consegue transformar o oxigênio para devolver para nós, porque a impureza do ar contaminado é maior do que a sua capacidade. O acúmulo de ar poluído torna-se pesado para as árvores.

É notado isso claramente nas leis da física. As árvores não conseguem absorver todo esse ar impuro. O peso do ar não é visto por nós, mas percebemos através do aquecimento. Em algumas regiões, o clima é seco e quente, geralmente as fontes de água secam, secam as relvas, assim como as folhas das árvores caem e os animais não conseguem encontrar abrigos e alimentos. Por falta de vegetação, o equilíbrio está ameaçado, colocando em risco a vida dos homens e dos animais. Não há mais vapores de agua produzidos pelas árvores, pela manhã não há gotas de orvalho.

Nas grandes cidades, o clima não é diferente. Para dizer a verdade, as pessoas estão sedentas, cansadas, querem sentir a brisa de ar frio pela manhã. No interior das casas, seja de noite ou de dia, o ambiente não é favorável, já é quente. Outro fator de alto risco é o acúmulo de gás poluente, as fumaças das grandes queimadas, que chegam e se alojam na camada de ozônio. Muitas vezes chegam pouco a pouco de algumas regiões e outras vezes chegam em grandes quantidades, aumentando a extensão do volume de gás poluente, rompendo a barreira de proteção da filtração de raios solares em direção à Terra. Nem podemos imaginar a causa disso. Pode ser que digam que isso é o aquecimento global ou o efeito estufa, prejudicial à nossa saúde.

Todo mundo sente e vê os impactos dos fenômenos estranhos decorrentes da mudança da natureza. Em alguns países, vemos terremotos, enchentes, secas, doenças, tsunamis, acidentes, maré alta, vulcões, chuvas com raios e trovoadas. Tudo isso é consequência causada pelas mãos dos homens. Eles estão desequilibrando o equilíbrio do ecossistema. Estão colocando em risco a vida da humanidade. O planeta todo vai ao caos.

Alguns estudiosos, como astrônomos, físicos, meteorologistas, que entendem de ciências naturais, podem explicar melhor cientificamente, tecnicamente e filosoficamente. A natureza tem uma lei. Ela age e faz acontecer tudo naturalmente, sem que o homem a interfira. Mas essa lei não é obedecida, é desrespeitada. Dá pra entender que temos leis (Constituição) para nos punir. Do mesmo modo, a natureza nos pune. Temos capacidade além da natureza, mas nunca vamos entender as suas ações.

A Terra está sofrendo impactos, está sendo tirada a sua cobertura (vegetação), seu teto destruído (camada de ozônio), alterada a sua fonte de vida (água) e todas as formas de vida. A sua estrutura sólida, que é a base de sustentação das rochas, solos e águas, está sendo destruída com explosão de dinamites. O lençol freático, com a base rompida, poderá abrir frestas e a água potável poderá secar o seu leito. As rochas, após sofrerem explosões, racham, se quebram, rompem, se afastam uma das outras. Elas não vão estar sólidas.

Na superfície da Terra, quando é provocada a estrutura que sustenta a camada externa, com o tremor, a tendência da vida externa é sofrer impacto. Logo se abre uma determinada camada da terra, causando a erosão, a fratura da base subterrânea. Começa a encontrar um caminho para o fundo da Terra, através das enxurradas penetram as águas potáveis, poderá secar a fonte de água doce, com rompimento das camadas de rochas.

Nosso receio é a liberação de gás prejudicial á vida dos seres humanos. O próprio vulcão inativo se ativará. Será um desastre não só para a Amazônia, o mundo todo sofrerá este impacto. Ao ser liberado o calor dos vapores do vulcão, quando a água penetrar pelo canal aberto até o manto, o calor através de vapores do contato com a água, o ar será aquecido, sendo prejudicial à vida existente no planeta Terra.

Será que o mundo vai permitir esse genocídio que está sendo anunciado com a decisão do governo brasileiro de construir grandes hidrelétricas e outros grandes projetos na região amazônica, que transformarão a natureza causando impactos irreversíveis para toda a humanidade? É a vida na Terra que está em perigo e nós estamos dispostos a continuar lutando, defendendo a nossa floresta e os nossos rios, para o bem de toda a humanidade. E vocês? Vocês estão dispostos a ser solidários nessa luta?

A luta do Povo Munduruku não é contra um governo, mas em defesa da vida. É o governo que não está sendo capaz de nos ouvir, de nos consultar, de respeitar nossas decisões sobre os problemas que nos afetam e à da humanidade. Exigimos respeito ao nosso direito de consulta prévia, livre e informada, pois não são apenas os direitos indígenas que estão sendo violados, mas também os direitos humanos e todo o patrimônio natural que preservamos há séculos.

Podemos citar como exemplo o caso das Sete Quedas, localizada no rio Teles Pires (MT), lugar sagrado, espiritual, onde estão os nossos ancestrais. Esse lugar sagrado foi destruído para a construção de uma grande hidrelétrica projetada pelo governo brasileiro. Sabemos que a energia que será gerada por essas hidrelétricas não beneficiará a população Munduruku, nem tampouco a população do município. Toda essa energia servirá apenas aos interesses do grande capital, de grandes empresas multinacionais que pretendem explorar as nossas riquezas minerais.

Quem vai decidir o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos e netos? Será o governo, com suas imposições, sua ganância e sua submissão aos interesses econômicos? O que os países que ratificaram a Convenção 169 da OIT pensam a esse respeito? A lei é para ser respeitada ou para ser violada? O governo brasileiro deve saber ouvir as populações, assim como os demais países que assinaram a Convenção 169.

Exigimos respeito aos direitos humanos, aos direitos indígenas, aos direitos do meio ambiente, aos direitos de preservação do patrimônio arqueológico, ao nosso direito de nos expressar enquanto povo com uma cultura diferenciada. A luta não é somente nossa, a luta é em defesa de todas as formas de vida!
SAWE! SAWE! SAWE!

O texto foi digitalizado por Rodrigo Oliveira, mestrando em Direitos Humanos na UFPA e ativista do Dejusticia e também publicado no blog Autodemarcação no Tapajós

Daniel Munduruku fala da contribuição do olhar indígena para a sociedade

Daniel Munduruku -  Foto: divulgação

Daniel Munduruku – Foto: divulgação

Por enquanto não há novidades sobre a peça “Meu Vo(o) Apolinário” – mas espera aí que em breve algo vai rolar, sem drama! Vamos falar, então, sobre a participação do autor do texto original do espetáculo, Daniel Munduruku, no programa “Segundas Intenções” em meados de 2015.

Na ocasião, ocorreu um divertido bate-papo na Bibiloteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo, entre Munduruku e o ilustrador Rubens Matuck. Os autores falaram sobre como o olhar indígena pode contribuir para a sociedade, além de expor uma crítica à universidade brasileira. A mediação foi do jornalista Manuel da Costa Pinto.

Assista ao vídeo abaixo: