Homem em ação durante Jogos Indígenas – Foto: divulgação
Na semana passada, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, publicou portaria, de número 80, que passou para o Ministério da Justiça o poder de rever todo o processo de demarcação de terra indígenas elaborado para a Funai. Se prevalecer a portaria, haverá uma fragilização do órgão.
O próprio ministro terá, desta forma, o poder de convocar “audiência pública para debates sobre a matéria do processo”. Além disso, a portaria abre espaço para a ação de grupos interessados na disputa de terras ao determinar que poderão ser criados outros meios de participação das partes interessadas, o que permite maior pressão de ruralistas nos processos de demarcação.
Várias entidades assinaram uma nota coletiva em repúdio à portaria. Leia abaixo:
“As organizações abaixo-assinadas vêm manifestar seu repúdio à Portaria n.º 80/2017, expedida pelo ministro da Justiça, dado seu nítido caráter de fazer prevalecer decisões de natureza política sobre conclusões eminentemente técnicas que fundamentam o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação de terras indígenas, elaborado no âmbito da Fundação Nacional do Índio (Funai). A medida segue na linha do enfraquecimento do órgão indigenista federal, atualmente com o pior orçamento de sua história, e consiste numa forte concessão do Governo Michel Temer a bancadas parlamentares anti-indígenas, em contraposição aos direitos ligados à vida dos povos indígenas do Brasil, notadamente o direito originário às suas terras tradicionais.
Repudiamos, ainda, a ausência de diálogo com o Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI (ligado ao próprio Ministério da Justiça), o descumprimento do direito à consulta livre, prévia e informada, bem como a orquestração de tentativas de impor graves retrocessos à legislação que rege o procedimento de demarcação de Terras Indígenas, mantida em vigor há mais de 20 anos, como a minuta de Decreto divulgada pela imprensa em dezembro de 2016 e a Portaria n.º 68/2017, recentemente revogada após manifestações contrárias do movimento indígena, de especialistas e do Ministério Público Federal.
Todas estas medidas têm o claro objetivo de retardar ou impedir a conclusão dos processos de demarcação, revelando o propósito do atual governo no sentido de enterrar políticas de demarcação de terras indígenas e outras pautas de regularização fundiária, o que só contribui para a ampliação e perpetuação dos conflitos existentes. Diante desse cenário, as organizações signatárias exigem a imediata revogação da Portaria nº 80/2017, bem como pugnam pela atuação do Governo Federal no sentido de fortalecer a Funai para o cumprimento de sua missão institucional e pela retomada urgente dos processos de demarcação de terras indígenas”, diz a nota.
Saiba quem assinou o documento: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB; Centro de Trabalho Indigenista – CTI; Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Greenpeace Brasil; Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC; Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB; Instituto Socioambiental – ISA; Operação Amazônia Nativa – OPAN e Plataforma DHesca/Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas.